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Os causadores da surdez

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Proteja seus ouvidos da poluição sonora       

Terceiro maior poluidor do planeta, depois dos efluentes líquidos e da fumaça, o barulho pode causar enormes prejuízos à saúde, que vão desde alterações temporárias da audição até lesões irreversíveis no aparelho auditivo. O lado mais cruel do problema é que a perda auditiva ocorre lentamente, sem a pessoa perceber. Tentativas de silenciar o mundo não faltam, embora ainda sejam insuficientes. No Brasil, leis municipais e normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelecem limites para os níveis de ruído, denominados decibéis. Só que nem sempre os valores são respeitados. Para atenuar os efeitos nocivos da poluição sonora, o Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Renováveis(IBAMA) e o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) vêm propondo diversas medidas, entre elas a criação de um selo ruído para alertar os consumidores sobre os níveis de potência sonora dos eletrodomésticos. Depois de  muitas reuniões, iniciadas em 1993, o projeto começa a se concretizar.

Liqüidificadores, refrigeradores e secadores de cabelos serão os primeiros a receber o selo

Vale destacar que o selo ruído não tem caráter restritivo, ou seja, não é para vetar a comercialização do aparelho. A idéia é informar a população sobre o nível de potência sonora do eletrodoméstico, cabendo ao consumidor optar por aquele que emitir menos barulho.Os primeiros aparelhos escolhidos para receber o selo foram liqüidificadores, refrigeradores e secadores de cabelos. Segundo o técnico de Laboratório de Ensaios Acústicos do Instituto Nacional de Metrologia, normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), Rodrigo P.B. da Costa Félix, até o fim do mês todos os liqüidificadores já estarão com o selo  ruído nas embalagens.

Cada três decibéis a mais correspondem ao dobro da emissão de energia acústica

“Esses três aparelhos foram escolhidos por serem eletrodomésticos populares e porque cada um representa um nível de potência. O liqüidificador, por exemplo, está numa escala mais alta, seu ruído varia de 80 a 90 decibéis. O refrigerador é mais baixo, em torno de 45 decibéis, e o secador de cabelos é intermediário, com 60. Como todas as marcas de liqüidificadores comercializados no Brasil já foram testadas, o próximo passo é avaliar os secadores de cabelo”, afirma o técnico.Quem quiser preservar um pouco os ouvidos deve abrir bem os olhos na hora de comprar um eletrodoméstico. Além de  avaliar beleza, preço e marca, é preciso levar em consideração a potência sonora. O técnico Rodrigo dá uma dica importante: “Cada três decibéis a mais correspondem ao dobro da emissão de energia acústica. Ou seja, um liqüidificador que emite ruído de 83 decibéis equivale a dois liqüidificadores que emitam 80 decibéis, se ligados simultaneamente."

Ainda há muito a fazer para poupar os ouvidos de tanto barulho

A preocupação com os efeitos nocivos da poluição sonora não é recente. Na Grécia antiga, os artesãos eram obrigados a    ficar fora da cidade para não perturbarem a paz dos habitantes. Hipócrates, o Pai da Medicina, também atribuiu aos desequilíbrios ambientais a causa de várias doenças, em sua obra Ares, água e lugares. Já no período da Revolução Industrial, o problema ganhou dimensões maiores, devido aos casos de surdez de ferroviários e tecelões. Para a fonoaudióloga Norma Fidalgo, especialista em audiologia e presidente da Cooperativa de Fonoaudiólogos (Unicopefono), ainda há muito a fazer para poupar os ouvidos de tanto barulho. No setor fabril, ela afirma que a legislação tem sido cumprida com mais rigor. “Dentro da indústria, a lei determina como limite de ruído 85 decibéis e acima disso são necessárias medidas preventivas, como o uso do protetor auricular. No ambiente externo, além de haver algumas concessões na lei, os valores estabelecidos raramente são respeitados.”

Os ouvidos toleram até 80 decibéis, mas a partir de 65 o organismo já está propenso ao estresse

A sensibilidade ao ruído é algo muito pessoal. O som que incomoda uma pessoa pode não afetar outra. Até mesmo uma música, dependendo dos níveis de decibéis e do próprio estado emocional de quem a ouve, pode causar desconforto. “Qualquer som indesejável é considerado ruído. Isso causa problemas extra-auditivos, como alteração do batimento cardíaco, tensão, desequilíbrio do tônus muscular, irritabilidade, entre outros distúrbios”, explica a fonoaudióloga.
Os ouvidos toleram sem desconforto até 80 decibéis, mas a partir de 65 o organismo já está propenso a um estresse gradativo. Nos horários de rush, nas grandes cidades, a faixa dos 100 decibéis é facilmente ultrapassada nas ruas. A exposição a tais índices de ruídos pode levar à perda de audição temporária, que normalmente provoca aquela sensação de ouvido tampado ou zumbido, muito comum quando se passa a noite numa boate. Segundo Norma Fidalgo, a longo prazo essa perda temporária pode levar ao comprometimento do aparelho auditivo.

Como os adultos, as crianças também sofrem inúmeros problemas com o barulho

“Algumas pessoas têm ouvidos de pedra e resistem bem à poluição sonora. Outras já são sensíveis e sofrem mais facilmente com essas agressões. O fato é que a exposição constante ao barulho pode provocar vários tipos de déficits auditivos, como perda dos agudos e das freqüências altas. Como nosso organismo tende a se adaptar, a pessoa não percebe que está escutando menos. Às vezes, surgem problemas como zumbido ou tonteiras. O trauma acústico é outro tipo de perda auditiva, causada por um som alto muito próximo ao ouvido, como o barulho de um tiro ou de um  morteiro”, declara.
Assim como os adultos, as crianças também sofrem com o barulho. Entre inúmeros problemas, elas podem apresentar distúrbios na voz _ porque precisam falar mais alto do que o ruído _ e ter dificuldades de concentração, memória, na localização dos sons e no desenvolvimento da fala. Na escola, apesar de a ABNT fixar entre 35 a 55 decibéis o nível máximo de ruído, a poluição sonora acaba sendo muito maior.
 De acordo com a fonoaudióloga, diversos fatores contribuem para isso. “Quase todas as escolas públicas estão situadas na beira das ruas e estradas. O barulho dos carros e ônibus se soma ao ruído dos próprios alunos. Além disso, não existe a menor preocupação com a acústica das salas. Materiais como vidro, concreto e mármore facilitam a chamada reverberação do som, ou seja, sua propagação no ambiente. O ideal é ter um revestimento no piso, teto e paredes, além de cortinas especiais”.  

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