Hospital Regimental do Campo (1832-1844)
Diante de tal situação uma nova tentativa para melhorar o sistema de atendimento surgiu com o decreto da Regência, de 17 de fevereiro de 1832, extinguindo os Hospitais Militares e criando os Hospitais Regimentais, tendo sido instalado no Rio de Janeiro, um, no Campo da Aclamação - atual Praça da República - e outro no Depósito da Praia Vermelha, além de uma pequena enfermaria militar na Fortaleza de São João. Somente mudou de nome e local - do alto do Morro do Castelo para a Praça da Aclamação - porque a Direção, os profissionais e os problemas continuaram os mesmos. Denominado Hospital Regimental do Campo, não atendia, também, a crescente clientela da Corte, e não poderia ser comparado aos Hospitais Regimentais das Províncias, onde o efetivo militar era bem menor. Era na verdade um autêntico hospital geral, como o tempo veio comprovar. Segundo o depoimento do Dr. Barros, que lá serviu, o Hospital consistia unicamente em:
"... várias salas térreas construídas unicamente para alojamento de companhias, com uma só porta cada uma e dez fenestras, cinco de cada lado, colocadas no terço superior das paredes laterais de cada sala; não existindo uma casa para arrecadação dos efeitos pertencentes aos doentes, para utensílios, para mantearia, e menos para as operações cirúrgicas, que cumpre se não façam nas enfermarias. Estas salas assim dispostas eram de sua natureza insalutífera, sem corrente de ar, nem meios de fazê-lo circular; por conseqüência a umidade e a perniciosa influência nelas entretida e mantida pela emanação dos enfermos. Nestas salas é que estavam promiscuamente todos os enfermos sem consideração alguma de natureza de suas enfermidades, quer elas fossem ou não de caráter contagioso. Os empregados do Hospital, além do Diretor, Cirurgião Cristóvão José dos Santos, se compunha de um médico consultante, do Cirurgião-mor do Corpo e dois cirurgiões ajudantes, um sargento amanuense, que ocupava ao mesmo tempo os lugares de almoxarife e de enfermeiro-mór; os enfermeiros eram soldados quase sempre inábeis, e em número insuficiente para o serviço dos enfermos, acontecendo o mesmo com o que servia de cozinheiro. O serviço das enfermarias era exercido por galés, e mal feito."
Enfrentando todas as dificuldades, os Hospitais Regimentais, que duraram ainda doze anos, foram extintos em 1844 ( decreto 397, de 25 de novembro ). Uma Comissão, constituída pelos Drs. Fidelis Martins Bastos, Cristóvão José dos Santos - ambos fundadores da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro - e Honório José da Cunha Gurgel, todos médicos militares, foi criada para organizar um projeto de regulamento. Entre os seus quinze artigos o citado regulamento detalha o funcionamento e instalações do novo hospital, determinando que as enfermarias deveriam ser proporcionais ao número provável de doentes, classificadas e distribuídas de modo que fosse uma só para uma certa classe de doenças, evitando-se mistura e contaminação; que houvesse um depósito de instrumentos e outro para roupas; determinava as dimensões das camas de ferro; três pares de lençóis e dois cobertores, quatro camisas, um roupão e uma calça; e uma banheira para cada vinte e cinco camas. Opinou ainda a Comissão, pela entrega da direção do nosocômio a um " oficial hábil, honrado e zeloso escolhido dentre as quatro classes que compõem o Exército". Este foi o início da direção leiga dos hospitais militares, entregue aos oficiais combatentes, o que perdurou até o fim do Império.
Pelo decreto citado, mandava o governo reunir os Hospitais Regimentais em um só com a denominação de Hospital Militar da Guarnição da Corte, destinado às forças de terra. Em um outro depoimento, desta vez um relatório do Sr. Ministro da Guerra, Jerônimo Francisco Coelho, dirigido à Assembléia Geral Legislativa, em 1845, encontramos as razões da extinção deste Hospital, onde o Ministro dá ciência do estabelecimento de um outro hospital, instalado nas antigas dependências do Colégio do Morro do Castelo. Vejamos:
"... era impróprio, acanhado e sem as precisas acomodações, mal arejado e úmido, mal administrado, mal provido e mal fiscalizado, este Hospital serviu mais para agravar do que curar as moléstias. As curas tardias e difíceis juntas ao acanhamento das enfermarias, fizeram nela acumular-se considerável número de enfermos ao ponto de haverem muitas vezes dois doentes em uma só cama. Daqui resultava uma grande mortalidade e tal que sobre duzentos enfermos, houve mês que morriam quarenta, e o total de mortos dos oito meses findos foi de duzentos e dezesseis praças. Era, pois, preciso, a todo o custo atalhar tão grande mal, não só por dever, mas também por humanidade; e tenho a satisfação de comunicar-vos que se acha estabelecido um Hospital de Guarnição, tendo o governo para este fim mandado restaurar parte do edifício do Castelo, que em outros tempos servira de Hospital Geral, e que hoje oferece todas comodidades necessárias a um bom hospital, e onde os enfermos tem encontrado útil e caridoso tratamento".